sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Fábula da Mãe Moderna


Há menos de um ano me tornei mãe. Na verdade eu acho que aniversários deveriam ser contados na data da concepção. Minha filha, por exemplo, está a poucos meses de completar 2 anos de concebida. O único problema do registro é a falta de precisão...
Bom, mas conta-se da data do nascimento.
Então vamos falar do nascimento... Não foi extraordinário, não. Pra ser sincera, desde que engravidei ainda não experimentei qualquer sensação espetacular, ao estilo Madame Bovary. Digo, os arrebatamentos.
Até hoje só senti felicidade. E muito amor! O amor mais tranqüilo que se pode imaginar...
Minha filha nasceu por uma cirurgia, em minha opinião, totalmente desnecessária e eu honestamente não tenho tantas lembranças daqueles dias. Lembro da carinha dela quando a deitaram no meu peito. Lembro da felicidade. E de muito amor.
Para mim, ser mãe é natural. Assim como deveria ser parir.
Eu defendo o parto ativo, o direito da mulher, o direito do bebê de escolher o momento de nascer e o escambal. Mas, sobretudo, eu defendo que o nascimento e o início da vida sejam naturais. Acho que eu sou uma mãe ultrapassada...
Convivendo com outras mães que passaram pela mesma cirurgia desnecessária que eu, tenho percebido um estilo de maternidade meio grotesco: a mãe moderna.
A mãe moderna é aquela mulher que fez tudo ao contrário até achar um grupo receptivo que defende valores que ela se esforça para “entubar” e ganhar a carteirinha do clubinho. Para ela, parir – por exemplo – é uma questão de status.
Amamentar, então, a colocaria num nível superior a todos os pobres mortais.
Ela não admite erros!
A mãe moderna planeja, espera, se antecipa, tem tudo estrategicamente sob controle. Inclusive a naturalidade do nascimento. “Descole as membranas, doutor, essa criança precisa nascer até sexta-feira!”, diz ela. E se não nasce de um parto normal, lá está ela com os braços amarrados à mesa de cirurgia, sorrindo para a foto.
Imaginativa que é, planeja tudo de acordo com a idéia que tem sobre como será o álbum de fotografias. Quer ser doula, porque está na moda e ela precisa “engajar-se”.
Tem tudo na ponta da língua, como se viver fosse uma ciência e está pronta a corrigir o menor vacilo. Afinal, mãe moderna que se preza não dorme no ponto, transforma-se em uma obstetra de plantão!
O pen drive da mãe moderna é cheio de imagens de grávidas famosas usando seus trajes da moda, prontos para serem copiados em tamanho EG, porque a mãe moderna acha que a maternidade justifica qualquer descuido consigo mesma, afinal, ser mãe é padecer no paraíso.
Já leu todos os livros do Dr. González, em espanhol mesmo, e até hoje está em busca do significado da palavra embarazada.
Defende a amamentação exclusiva com unhas e dentes e por isso mesmo faz lindas fotos amamentando. Um super sorriso para o fotógrafo e... aff, ninguém nuca contou à ela que amamentar pode ser dolorido. Então ela rapidamente reconhece quando seus peitos secam e mais rapidamente ainda considera que as fórmulas existem para salvar seu filho da desnutrição.
A mãe moderna é tão precavida que tem os melhores profissionais do país inteiro à sua disposição, antes mesmo de planejar a gravidez. Pra ela, nascer é um a-con-te-ci-men-to espetacular e ela não deixa de providenciar comes e bebes para as visitas, lembrancinhas de toda a ordem e, claro, o fotógrafo de plantão. O que será daquele momento sem uma foto?!
E assim ela segue, fazendo da maternidade um compromisso social.
Diante da mãe moderna, o que sou eu? Pobre mulher que não pariu, que às vezes se sente insegura sobre os cuidados com a filha, que amamentou exclusivamente até bem perto dos 6 meses, que não tem fotos bonitas registrando o nascimento da filha, que comete erros...
Eu sou mesmo uma mãe muito ultrapassada!
Mas acho que estou satisfeita com a minha condição. Meu álbum de fotos é pobrezinho, mas a minha vida é cheia de felicidade. E de muito amor!

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